sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O cadáver já cheira mal.

No Evangelho de João, capítulo 11, versículos de 1 a 44, encontramos um dos milagres mais significativos de Jesus: a ressurreição de Lázaro. Mais do que multiplicar pães e peixes, mais do que andar sobre as águas ou acalmar uma tempestade, Cristo faz levantar da morte um homem.

Num primeiro momento, podemos tomar o exemplo da fé, relacionada a esse episódio. Deus é o Deus do impossível, subverte o conceito humano da morte, mesmo nas condições mais impossíveis. No versículo 40, temos a fala de Marta, que diz que o corpo já "cheira mal, porque já é de quatro dias". Mesmo apesar da lógica humana (oras, o cadáver já entrava em estado de putrefação), Jesus manda tirarem a pedra que fechava o túmulo, e após dar graças ao Pai por ouví-lo, manda, cheio da autoridade que só Ele tem: "Lázaro, vem para fora!" (v. 43).

E Lázaro saiu. Quantos e quantos ali presentes (v. 31) pensaram que de nada adiantava mandar abrir o túmulo? Quantos ali não acharam um desrespeito com a família do falecido o atrevimento de retirar a rocha? Quantas vezes nós, em nossas pequenezas humanas não nos achamos perdidos? Pensamos "não adianta mais, de que adianta orar?". Oras, Deus, através de seu Filho subverte a nossa lógica, acaba com nossas certezas mais enraizadas, até com a maior delas: a morte.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

GEIPA

Eu, muito tatu que sou, esqueci de publicar aqui o próximo encontro do GEIPA (Grupo de Estudo de Idéias e Práticas Anarquistas). Ele é amanhã, mas ainda está em tempo de participar. O material para a reunião pode ser conseguido aqui.

O assunto é bom, mas o palestrante é meia boca, haha! Será divertido, um momento de discussão e aprendizado mútuo. Apareçam!

Maiores informações, no cartaz.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Nem todo aquele que diz: "Senhor, Senhor!".

"Acautelai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós com vestes de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes." (Mateus 7:15).

O versículo acima, por ele só, já seria suficiente para termos um longo texto sobre os pastores da chamada "Teologia da Prosperidade". Os ditos pastores, sacerdotes, profetas, que extorquem as pessoas do produto de seu trabalho em nome de Deus. Será que era a esses que Jesus se referia acima?

Entretanto, não podemos tapar o sol com a peneira. Não podemos negar que as vezes, algumas coisas funcionam nas igrejas desses pastores, nas obras deles, em seus ministérios. Pessoas são salvas, se arrependem de seus pecados, são curadas, milagres são realizados... E aí? Confuso, não?

Para ajudar a desfazer essa dúvida, basta nos lembrarmos de uma frase recorrente no vocabulário de Jesus ao longo dos evangelhos: "vai, a tua fé te salvou". Essa sentença aparece (em uma busca rasa) no mínimo sete vezes ao longo dos relatos. Onde quero chegar? Cristo não fala: "Eu te salvei". É lógico que sabemos que é Cristo quem realiza o milagre, e que só somos salvos através dEle, porém, se não há fé, não há salvação, deve haver a crença. Nunca seremos salvos "a força". Muitas vezes, Deus pode agir na vida de uma pessoa, chamá-la, mas ainda assim, a escolha final de aceitar ou não, é dela.

O que quero dizer então? Os sinais de Deus que encontramos por meio das obras destes lobos em pele de ovelha, são legítimos, entretanto, acontecem praticamente por meio da fé das pessoas.

"Mas e os pastores?" me perguntarão vocês. "Eles não falam por Deus"? Eu não tenho uma resposta dessa magnitude, até por não julgar por Deus. Entretanto, podemos ver o que a Bíblia diz.

"Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai que está nos céus. Muitos, naquele dia, Me dirão: Senhor, Senhor! não foi em Teu nome que profetizamos, e em Teu nome expulsamos demônios, e em Teu nome fizemos muitos milagres? Então lhes declararei: Nunca vos conheci. Apartai-vos de Mim, os que praticais a iniquidade." (Mateus 7:21-23, grifos meus).

Interessante. Nem todo que clama, nem todo que crê, nem todo que faz obras em nome de Cristo serão aceitos, apenas aqueles que fazem a vontade de Deus. No nosso caso de estudo aqui, acho que podemos nos reter no aspecto financeiro, para ver o que é a tal da "vontade de Deus".

"Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom. [Mamom significa 'riqueza' em aramaico, também é conhecido como a "divindade do dinheiro"]. E os fariseus, que eram avarentos, ouviam todas estas coisas, e zombavam dele. E disse-lhes: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações, porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação." (Lucas 16:13-15 grifos e nota entre colchetes são meus).

Claro, direto e conciso. "Não podeis servir a Deus e a Mamom". Não há um talvez, um porém, um "quem sabe". Como poderemos buscar a vontade do Pai se nossa cabeça e nosso querer buscam o dinheiro? Se buscam apenas acumular? Lembremos que "onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração"(Mateus 6:21).

Assim se comportam os tais pastores-lobos-disfarçados-de-ovelha. Eles diferem muito pouco de algum industrial poderoso, um comerciante ávido; esses burgueses exploradores da mão-de-obra dos "pequeninos". Tais pastores diferem-se por buscar acumulação de capital usando o nome de Deus. E muitos deles um dia clamarão: "Senhor, Senhor!". Qual será o seu destino?


sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Do ser e do Estado

O Estado é algo que não existe. Materialmente, não existe. O que temos é a abstração de Estado, a idéia, o conceito. O Estado na verdade, existe naqueles que o personificam. Governadores, prefeitos, vereadores, presidentes, reis, imperadores, policiais, eleitores... São pessoas como todas as outras, mas até que ponto vai a sua humanidade a despeito de envergar o aparato estatal? Um policial deixa de ser um opressor no momento em que tira sua farda? E quantos “cidadãos-policiais” sem farda existem por aí?

Para se envergar o espírito do Estado, é preciso uma série de requisitos. Hipocrisia é um deles. É só ver os discursos pré-eleições e pós-eleições dos candidatos eleitos. Aqui, não me refiro nem mesmo às famosas “promessas”, mas sim ao discurso num geral, refiro-me às propostas, às críticas mordazes à atitudes dos adversários que depois são imitadas, entre muitas outras coisas que observamos.

Meu objetivo aqui é mostrar esse lado da máquina estatal, e relacioná-la com um episódio da condenação de Jesus, onde o Estado Romano mostra suas boas intenções.

Segundo Jacques Ellul, a maior arma de Roma, era o Direito. Conforme o autor: “Ensinei direito romano por vinte anos e descobri todos os nuances e toda a habilidade dos juristas cujo único objetivo era dizer o que era correto. Eles definiram a lei como a arte do bem e do equitativo, e posso assegurar que em centenas de casos concretos foram tomadas decisões que demonstraram que de fato estava sendo feita justiça.” (ELLUL, Jacques. Anarquia e Cristianismo).

Após o julgamento de Cristo, e as tentativas de Pilatos de libertar Jesus no lugar de Barrabás, diante da recusa do povo, vemos em Mateus 27:24 que o governador romano realiza o famoso gesto de “lavar as mãos”, que significava se ausentar de responsabilidade no caso, e proferir as seguintes palavras: “Estou inocente do sangue deste justo. Considerai isso.” Prestem atenção à primeira frase, “sangue deste justo”. Pilatos sabia que Cristo era inocente, o chamou de justo perante a população. Daí em diante, qual deveria ser a participação do estado romano no restante do processo?

Ellul nos lembra que Pilatos obedecia diretamente ao Princeps romano, ou seja, somente ao César. Em suma, ele era a autoridade política máxima da região, e da vontade dele dependia o funcionamento da máquina estatal da localidade. Sendo assim, para comprovar a justiça tão admirada até hoje do estado romano, após lavar as mãos e chamar Cristo de justo, ele deveria SE retirar e retirar também qualquer participação do Estado, seja qual forma fosse. Não foi o que aconteceu, conforme veremos mais adiante.

Até onde vai a separação ser humano/representante do Estado? Essa pergunta já feita nos parágrafos anteriores, suscita bem a questão do comportamento de Pilatos. Logo após se isentar de qualquer responsabilidade e declarar o julgado como justo no versículo 24, temos nos versículos 26 a 31 a prova de que a figura do Estado (ou de Pilatos?) não se ausentou como deveria: “Então soltou-lhes Barrabás, e, tendo mandado açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado. E logo os soldados do presidente [Pilatos], conduzindo Jesus à audiência, reuniram junto dele toda a coorte. E, despindo-o, o cobriram com uma capa de escarlate. E, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e em sua mão direita uma cana; e, ajoelhando diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, Rei dos judeus. E, cuspindo nele, tiraram-lhe a cana, e batiam-lhe com ela na cabeça. E, depois de o haverem escarnecido, tiraram-lhe a capa, vestiram-lhe as suas vestes e o levaram para ser crucificado.”

Oras! Logo em seguida de ter se isentado, Pilatos manda açoitar a Cristo; e os soldados romanos conduzem Jesus para a crucificação, depois de o terem espancado e humilhado. É compreensível (porém não digna de justificativa) a postura do governador romano ao “lavar as mãos”. Pilatos não desejava se envolver com algo que não concordava, mas deixou o estado o qual ele era o representante se envolver. Até que ponto ocorre a separação? Até que ponto pessoas podem ter ações “justificadas” pelo cargo que ocupam?

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Diálogos na hora do cafezinho.

Fui tomar um café em meio a uma modorrenta tarde de serviço, quando dois outros "servidores" conversavam na cozinha:

- Pois então, agora estou fazendo esse curso de Teologia...

De pronto, entrei na conversa. Não apenas pelo assunto, mas também por ser ainda "novo" no trabalho, buscar um entrosamento maior com o pessoal. Para mostrar meu interesse, já digo:

- Poxa, legal! Tenho me interessado bastante pelo assunto também, mas ainda sou bem amador, leio muita coisa por conta própria...

Nisso, o meu colega responde:

- Pois é! Eu comprei um conjunto com quatro DVD's, e lá tem um que mostra que o Mar Vermelho não baixa a maré como dizem!

Daí em diante, tudo tornou-se um horrendo bla-bla-bla. Obviamente que o homem lá não falou só isso, ele aprofundou dizendo que ele se convenceu de que foi tudo milagre, que não tem explicação...

Isso me leva a pensar algumas coisas. Primeiramente, isso que ele está estudando/assistindo, não é teologia, é o "show" da fé. Qual é a real importância se o mar se abriu ou não? O importante é a mensagem de libertação que o Êxodo nos traz! Que demonstra a preocupação de Deus que não nos sujeitássemos a nada mais, a não ser a Ele, para que pudéssemos exprimir nossa humanidade de uma forma plena, que fugíssemos dos ídolos que subjugam a vontade humana.

Me entristece ver que pessoas que pertencem a determinações importantes e que tem um grande número de fiéis estejam preocupados se o mar abriu ou não, se Jesus caminhou mesmo sobre a água, se os muros de Jericó ruiram sozinhos ou não. Essas pessoas buscam um deus (sim, com minúscula mesmo) milagreiro, mágico, que prontamente atenderá aos seus desejos com um simples estalar de dedos, no melhor estilo do deus da teologia da pro$peridade...

Peço para que Deus não abra mares, mas cabeças, corações.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

"Deus está morto!" Graças a Deus!

Há algum tempo atrás, alguns homens bradaram “Deus está morto!”. Entre os que se utilizaram dessa frase (literalmente ou não), figuram alguns dos mais importantes nomes da Filosofia e das ciências humanas.

Tal afirmação vinha de encontro à novas idéias, um mundo novo se descortinava perante os olhos e mentes das pessoas. Era o Iluminismo, o século das luzes! Uma cultura obscura, que amordaçava o saber científico (ao menos em boa parte) ficava para trás. A Idade Média, a “era das trevas” era enfim subjugada e superada.

Uma das principais instituições (senão a principal) que figurou durante a Idade Média, a Igreja Católica Romana, tornava-se agora o alvo desses estudiosos, desses homens do saber. Com toda a razão, eles atacavam os dogmas da igreja do Papa, suas ordens, suas teses e ensinamentos. Criticavam ferozmente também a hierarquização da Igreja, a inquestionabilidade papal. E, do ponto de vista bíblico, eles estavam corretos!

Entretanto, quando foi dito “Deus está morto”, eles não estavam errados, apenas atrasados. O “deus” que eles negavam, já era morto faz tempo, era um deus institucional, criado por uma igreja corrupta, que apenas servia para subjugar a liberdade humana, e que nunca foi vivo. Era um deus cujo filho tinha feições suaves e europeizadas, com olhos azuis e pele clara, não foi um marceneiro de origem árabe-judaica.

O Deus vivo, libertador, era presente na vida dos perseguidos, dos queimados nas fogueiras inquisidoras; estava junto às prostitutas, aos que expressavam e professavam a fé de modo vivo, verdadeiro; assim como é presente a figura de Jesus nos Evangelhos, ao lado dos excluídos, dos párias de uma sociedade hipócrita e mesquinha.

Deus com certeza não estava nas vendas de indulgências, nos ritos frios e mecanizados, exclusórios, feitos em uma linguagem que a grande massa não entendia (o latim), nos massacres e guerras feitas em nome d’Aquele que veio trazer a vida. Assim como Deus não está hoje ao lado daqueles que arrecadam quantias vultuosas em nome da salvação, nem daqueles que enganam o povo, seja através da mídia, do palanque eleitoral, da sala de aula ou do altar.

To peplo tou naou (το πέπλο του ναού)

Peplo (πέπλο) é uma palavra grega, e significa véu, como vemos em Mateus 27:50-51, no "véu do templo" (το πέπλο του ναού ou to peplo tou naou). Nos templos judaicos havia o lugar do Santo dos Santos, uma câmara que era separada do espaço comum por um véu, que separava o sacerdote e seus ritos dos demais freqüentadores das sinagogas, simbolizando uma separação formal, burocrática entre as pessoas e Deus. Quando Cristo na cruz bradou: “está consumado”, o véu se rasgou de alto a baixo, e a terra tremeu. A separação entre Deus e as pessoas tinha acabado, agora tínhamos acesso direto ao Pai, sem mais necessidades de ritos, sacrifícios, confusões, burocracia...

Ali caiu por terra também a velha lei mosaica, os complicados ritos e sacrifícios e passou a valer apenas um elemento que seria a derradeira lei: o Amor.

Da mesma maneira, quando Cristo retornar, sabemos que Ele rasgará muitos véus, incluindo o véu do Estado, e derrubará o que coíbe a plena libertação dos Seus filhos! Seremos livres da separação, seja por nacionalidade, por preconceito, gênero ou espécie, ou qualquer outra! Toda a burocracia, seja ela material ou espiritual; que nos prende, nos amarra e que impede um pleno crescimento humano será extinta.

Nas palavras do Mestre em João 8:32: “a verdade vos libertará”! E a verdade, que é Cristo; vem libertando, apesar de todos os esforços contrários daqueles que usam o Seu nome para iludir, enganar e subjugar as mentes e os corações sinceros. Esses ainda terão o seu quinhão.