terça-feira, 16 de março de 2010

Simbologia dos símbolos que simbolizam

No último domingo, na primeira reunião da MiUni de 2010, discutíamos acerca da cruz. Desta, a conversa recaiu sobre os símbolos presentes na religião e a necessidade dos mesmos. Ali, saíram opiniões que mudaram um pouco a minha maneira de pensar, e gostaria de compartilhar isto aqui.

Por conta da minha formação de vida, os símbolos sempre me remeteram à idéia de alienação, submissão. Criado na Igreja Batista, que costuma apresentar as paredes de seus templos “nuas”, a idéia da cruz sempre me pareceu estranha. Aliado a isso, também sempre tive uma propaganda extremamente anti-católica dentro de casa, com minha vó sempre xingando os padres e a Igreja de Roma. Para mim (e para minha vó), a Igreja Católica era a igreja dos santos, dos adoradores de imagens, dos descumpridores do primeiro mandamento, da simbologia; pois até então, símbolo e imagens para mim era a mesma coisa.

Secularmente (não gosto muito dessa separação, mas ela nos serve bem aqui), símbolos também não me caíam bem. Me descobrindo anarquista, passei, por exemplo, a negar bandeiras; fossem elas de países, com foices e martelos, e aí em diante. Mesmo o conceito de “bandeira anarquista” me causa certo constrangimento. Como simbolizar o que busca destruir símbolos? É, no mínimo, contraditório.

Alguns anos depois, ainda pra reforçar, descobri o livro “O Espírito de Liberdade”, do psicólogo e sociólogo alemão Erich Fromm, que me ajudou a suplantar ainda mais a necessidade de símbolos. De forma magistral, Fromm demonstra através de uma análise freudiana do Êxodo hebraico, que as imagens servem apenas para submeter o potencial humano a elas. O autor porém, defende a idéia de que o ser humano não deve depender nem mesmo de Deus, pois foi pra sermos inteiramente livres que fomos criados. Concordo em partes, pois realmente devemos ser independentes e livres, porém acredito na submissão apenas a Deus, pois sem isso, a nossa natureza humana e falha não encontra o prumo.

Porém, o que transforma o símbolo em religioso? Para o teólogo/filósofo francês Jacques Ellul, é a palavra, enquanto força criadora de vida. Se pegarmos uma árvore e trabalharmos nesta até que uma mesa seja feita, o que temos é uma mesa. Numa mesa podemos comer, sentar ao redor, por os cotovelos (apesar de a etiqueta dizer que não), apoiar os pés... Enfim, inúmeras coisas. Entretanto, a partir do momento em que pegamos esta mesma mesa e colocamos em um lugar diferente, e a chamamos de “altar”, a coisa muda totalmente de figura.

A mesa deixa de ser mesa?

O luminoso escrito “Jesus” presente nos altares de algumas igrejas deixa de ser uma reação química de um gás que gera luminescência?

Porém, aprendi que há de se diferenciar imagem e símbolo, apesar destes serem quase que em sua maioria sinais visuais. Em um recente e-mail, fruto do debate de domingo, meu amigo Robert disse o seguinte: “Jesus como o Cristo de Deus também é um símbolo, se não, ficamos apenas com o Jesus histórico.” Porém, o próprio Rob finaliza com a seguinte sentença: “Mesmo assim, o símbolo não "é" o que simboliza, podendo ser transformado em ídolo. Este talvez seja o motivo pelo qual temos a tendência de desconfiar (muitas vezes com razão!) dessa história de símbolos. Mas, acho que antes de eliminá-los sumariamente, precisamos encontrar uma "convivência" sadia com eles, isto para a própria sobrevivência da igreja e da Boa Nova.”

E realmente, nesse domingo a noite, encontrei pessoas que conseguiam manter a tal da “convivência sadia” com os símbolos, e notei que, eu também o fazia, sem me dar conta que certos elementos os quais eu respeito não deixam de ser símbolos.