terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Companheirismo!

Texto feito para o culto noturno de advento do dia 06/12:

Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido. (2 Timóteo 3.14)


Esse versículo foi escrito por Paulo para Timóteo, em sua segunda carta para ele. Segundo alguns estudiosos da Bíblia, essa é uma das últimas cartas de Paulo que constam na Bíblia, ou seja, ele estava “em fim de carreira”, parafraseando o próprio apóstolo. Além disso, quando escreveu, Paulo estava enfrentado a prisão em Roma pela segunda vez.
Conforme podemos ver em alguns trechos desta e da primeira epístola, Paulo tinha a Timóteo como um “amado filho”, demonstrando que Timóteo foi um grande amigo e seguidor dos passos de Paulo. E por ele, o apóstolo nutre grande carinho e demonstra preocupação.
Nessa época, Timóteo havia ficado na cidade de Éfeso, com o intuito de corrigir “certas pessoas” que estavam promovendo alguns erros doutrinários (cf. 1 Timóteo 1:3), uma tarefa que talvez pudesse ser pesada para um jovem como ele. E, além disso, Paulo adverte-o constantemente que tempos trabalhosos virão pela frente.
Devemos entender que a frase de Paulo, demonstra que tempos difíceis estavam também acontecendo, conforme os versículos anteriores. O apóstolo fala de perseguições, enganações, e de como os “homens maus e enganadores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados”. Timóteo, porém, deveria permanecer firme naquilo que sabia, sabendo de onde vinha esse saber. Quanta coragem de Paulo! Mesmo sendo perseguido, estando preso pela segunda vez pelo seu próprio império, ainda assim ele exorta Timóteo a permanecer em tudo o que havia aprendido, e lembrando-se sempre de onde o havia aprendido. Timóteo devia ser firme, andar reto nos caminhos do Senhor. E o que, em resumo, Paulo quer dizer a Timóteo, pode ser encontrado em 2 Tm 4:5: “Cumpre o teu ministério”.
A relação de carinho que Paulo tem para com Timóteo, pode servir a nós como exemplo, da relação que Deus quer ter conosco. Deus nos ama, mas quer que cumpramos o nosso ministério, pois todos temos um sacerdócio próprio para cumprir, seja na igreja, no trabalho ou em casa. E para tal, Deus nos chama para que permanecermos naquilo que temos aprendido, sabendo de onde o aprendemos, estando conscientes e firmes, para não nos perdermos no caminho.
Entretanto, quantas vezes nos deixamos desanimar para com as adversidades, com as perseguições. Quantas vezes nos esquecemos de o que Jesus passou, do grande exemplo que temos, e mesmo assim nos queixamos e agimos como se “o mundo fosse acabar”.
Entretanto, olhemos para Paulo. Lá está ele preso, com a perspectiva de ser morto, longe de todas e todos, mas mesmo assim, ele insiste para que Timóteo não esmoreça, que siga adiante em seu caminho, sempre debaixo da sabedoria do Senhor.
É como a história das pegadas na areia. Quantas vezes caminhamos lado a lado com Deus, e, ao olhar para trás na nossa vida, vemos sempre dois pares de pegadas que ficaram pelo caminho. Porém, há momentos em que olhamos para trás e vemos apenas um par de pegadas. Reclamamos e questionamos “onde estava Deus?” É quando Ele nos mostra que só há um par porque estávamos sendo carregados por Ele.
E Paulo, foi carregado por Deus em muitos momentos da sua vida, e sabia que o Senhor sempre estaria pronto para ajudá-lo em qualquer momento. E foi isso que ele também quis passar para Timóteo nessa carta, que devemos ter confiança em Deus.
E para nós, podemos entender que Paulo, além de tudo isso já dito, também quis demonstrar que devemos estar sempre prontos para ser um apoio para os nossos irmãos e irmãs, seja qual for a nossa situação. E isso, não porque devemos ser super-homens, ou sobre-humanos, mas sim por conta do apoio que temos de Deus e daquilo que temos aprendido dEle, que pode nos dar a base e a força para ajudarmos uns aos outros enquanto comunidade, sempre encorajando-se mutuamente, e nutrindo uns aos outros com a esperança de Cristo ressuscitado na cruz.
Esperança essa, que é a marca do advento, que é o motivo de toda essa espera que nos propomos simbolicamente ano após ano. Devemos nos espelhar em Paulo, quando em frente a todas as adversidades, recomendava a perseverança, e mostrava a confiança que tinha em Deus. Devemos nos espelhar em Timóteo, que ouvia os conselhos daqueles que lhe queriam bem. E acima de tudo, devemos ter em mente o objetivo do advento: esperar em Jesus Cristo, que vem para reinar, com aqueles que permaneceram no que Ele ensinou!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Breve pausa para o "mundano"








Agora, voltaremos com a programação normal...



quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Coragem!

Texto feito para o culto noturno de advento do dia 01/12:

Naquele dia abrir-se-á a tua boca para com aquele que escapar, e falarás, e não mais ficarás mudo; assim virás a ser para eles um sinal, e saberão que eu sou o SENHOR. (Ezequiel 24.27)


CORAGEM!


Ezequiel foi profeta quando o povo de Israel estava na Babilônia entre os anos 293 e 571 a.C. De fato, a atividade profética de Ezequiel aconteceu em plena fase que antecedeu a destruição de Jerusalém, e enquanto o povo hebreu estava no período de cativeiro na Babilônia. Ele viveu entre os exilados, suas profecias eram feitas entre as pessoas deportadas para as terras estranhas da Babilônia, pessoas que estavam longe de seus lares, de sua terra. A comunidade na qual o profeta vivia, era refém de um pensamento que estava atrelado ao passado, eles acreditavam que em breve tudo voltaria a ser como antes. Porém, ele sabia que esse passado não era mais possível, e muita coisa teria de ser reconstruída em meio ao povo.

Ou seja, Ezequiel não trazia boas notícias, para um pessoal que já não se encontrava em boas condições. E ele tinha que falar. Como podemos ver no versículo, (“e falarás”) essa era uma ordem direta de Deus! E como a maioria dos profetas, Ezequiel era marcado por uma característica: coragem.

Entretanto, como de qualquer profeta, a coragem de Ezequiel não vinha dele mesmo, da sua criação, ou do seu caráter. Pelo contrário, vemos que muitos dos profetas têm medo de falar, não se acham capazes, têm receio da reação das pessoas... Porém, Deus lhes dá a Sua coragem. O próprio nome de Ezequiel é testemunho disso, significa “Deus fortalecerá”. Mas aqui, quando usamos a palavra coragem, não é a bravura, os grandes feitos, dos heróis de cinema ou de contos de fada.

Não, aqui a coragem é outra. É a coragem de abrir mão de si, de deixarmos nossas vontades e desejos de lado, nossa humanidade, e nos colocarmos inteiramente nas mãos de Deus, dentro dos Seus desígnios. Quando o Senhor diz a Ezequiel que ele Lhe servirá de sinal, isso é entregar-se nas mãos de Deus, se dispor a ser usado total e completamente por Deus. Uma pessoa que está comprometida com qualquer outra coisa, antes de estar comprometida com Deus, dificilmente consegue ser um sinal, pois em algum momento, tomado pelo medo (ou pela falta de coragem), vacilará.

E o tempo de advento, é um tempo de entregar-se a Deus, tempo de coragem. Por que coragem? Porque, em meio ao mundo em que vivemos, é necessário ter coragem para nos firmarmos enquanto cristãos, falarmos o que Deus nos manda falar, fazer o que Deus nos manda fazer, sermos um sinal, assim como Ezequiel foi. Ele teve de ser um diferencial dentro do lugar em que estava inserido.

Enquanto o povo lamentava a perda do que lhes era mais caro (a terra natal, o templo, a liberdade enquanto povo), Ezequiel perde a sua esposa, e mesmo assim Deus o ordena nos versículos 16 e 17 que “não lamentasse, nem chorasse, nem que lhe corressem as lágrimas. Que gemesse em silêncio e que não fizesse luto por mortos. Que amarrasse o turbante, calçasse seus sapatos, e que não fechasse seus lábios”. Mesmo depois da morte de sua mulher, Ezequiel deveria permanecer firme, ser forte e falar o que Deus lhe mandava. Ele devia ser um sinal, um exemplo. Ele deveria permanecer e aguardar no Senhor. Ezequiel também vivia um advento.

Assim é conosco hoje também. Parecemos perder tudo o que nos é caro. Além disso, estamos em um mundo tecnocrata, onde todas as falsas promessas de felicidade e garantia de futuro residem nas descobertas, na evolução da tecnologia, dominada pelo ceticismo e pelo individualismo. E, nesse mundo, estar em comunhão com outras pessoas, crendo e esperando a volta de Jesus, parece loucura, parece não fazer sentido. É entender, como Ezequiel queria dizer, que o passado não vai voltar, mas que em Deus temos um futuro novo e perfeito nos esperando, e a nós, cabe confiar e esperar, viver um advento. E para disso, devemos pedir a Deus por coragem

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Um convite atrasado...

... mas ainda em tempo.


Em uma postagem anterior, escrevi sobre o livro “Caminhos de reconciliação: a mensagem da Bíblia”, de Enio R. Mueller, que é o primeiro título lançado pela Editora Grafar, de Joinville.

Pois bem, hoje, dia 27 de outubro, às 19h, na Livraria Midas (rua Dr. João Colin, 475), o autor do livro estará proferindo uma palestra no V Fórum de Pentecostalidade e Reforma, numa iniciativa da Faculdade Refidim do CEEDUC. O assunto abordado por Enio será conduzido em torno dos "Caminhos de Reconciliação".

Haverá espaço para autógrafos.


Estarei lá :)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O candidato está nu!

O Bacia das Almas, do Paulo Brabo, lançou a seguinte campanha, que ajudo a divulgar (para acessar as seções, basta clicar nas figuras):


Lá, você pode vestir o Serra:

Ou a Dilma:



Com a roupagem que lhe vier na telha, pois nas palavras do próprio Brabo: "vale canonizar e demonizar sem medo, visto que pastores, periódicos e blogueiros supostamente isentos fazem a mesma coisa".
Imprimam, recortem e divirtam-se!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Os políticos e a proteção da "Verdade"


Ontem, assisti a um debate entre políticos (que se diziam) luteranos, e que concorrem a certos cargos na eleição de 2010. Haviam candidatos a deputados estaduais, federais, um concorrente ao senado e mais um concorrente à vaga de vice-governador de Santa Catarina.

Até aí, tudo muito bom, tudo muito bem. Todos eles exaltaram uma “linhagem” luterana, alguns puxaram seus primos, tios e demais parentes que figuravam entre pastores e leigos dirigentes da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Alguns, ainda mais enfáticos, exaltaram sua herança cultural alemã. Até aí também, nada demais, já que o debate estava sendo realizado para uma platéia composta 99% por descendentes de alemães.

Após uma breve apresentação dos candidatos, onde cada um teve um tempo para falar sobre si, suas propostas, sua herança cultural e o que mais lhes aprouvesse, foi aberta uma rodada de perguntas. Depois de uma ou duas básicas (itens tais como educação e reforma tributária), veio a temida: a posição dos candidatos frente ao famoso Plano Nacional dos Direitos Humanos 3 (PNDH3), que trata de temas tais como o aborto e o cerceamento do direito de se pregar contra a homossexualidade.

Pois bem, o que desejo abordar aqui, não é a questão da validade do Plano, nem se esse pode realmente cercear alguma coisa ou não, mas sim o clamor que começou a ser levantado naquele local. Quando falado sobre o PNDH, logo as falas acerca da “proibição de pregação”, de “ter que reescrever a Bíblia” e outros disparates começaram. Até que um dos candidatos pegou o microfone e falou algo do tipo:

- Lá [lá onde, criatura?], quero ser sal e luz! Quero ser a diferença, quero proteger o Evangelho, proteger a verdade do Evangelho!

OPS!

Proteger o Evangelho? O Evangelho não precisa que nós seres humanos o protejamos. O Evangelho é vivo, ele apenas precisa ser proclamado, Kérigma! Além disso, proteger a verdade do Evangelho? Qual é a verdade que esse homem queria proteger? A que ele julga correta? A verdade que discrimina pessoas por conta de sua opção sexual? A verdade que serve para justificar a pretensão do homem branco-rico-heterossexual-ocidental-cristão?

Quando alguém se intitula como defensor do Evangelho, ainda mais um representante do Estado, incorre no risco de querer dar a César o que é de Deus... Como um certo pastor já citado no post anterior. Esses homens talvez queiram (e até podem tentar) proteger a verdade deles, a qual eles tem todo o direito de espalhar. Agora, colocar essa verdade como a verdade de Deus e do Evangelho, aí complica, pois sabemos que só há uma Verdade (Jo 14:6), e esta Verdade, não precisa de homens e mulheres para defendê-La, muito menos de vice-governadores, deputados, senadores, pois à essa Verdade, pertence o Reino, o Poder e a Glória para sempre.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Dando a César o que é de Deus

Ultimamente, tem rolado pela internet um vídeo do Pastor Paschoal Piragine, da 1° Igreja Batista de Curitiba. Eu, ao menos, recebi esse vídeo umas três vezes de três pessoas diferentes. Normalmente, costumo ignorar esse tipo de e-mail, mas esse eu acabei assistindo, e me levou à diferentes reflexões.

O Pr. Piragine vai fazer a sua reflexão em cima da iniqüidade, e vai falar sobre temas que “abalam” o mundo da cristandade igrejeira. Aborto, por exemplo. Aqui, cabe a opinião e a liberdade de pensamento de cada um, do que acha ou não acha dos temas “escancarados” no filme sensacionalista apresentado pelo Pastor (escancarados sim, com imagens chocantes e desnecessárias de fetos humanos mortos, para citar o mínimo).

Até aí, nenhuma novidade no discurso do Pastor, a não ser a partir do momento em que ele escolhe um alvo para demonizar. Alegando que faria algo que não fez em 30 anos de púlpito, ele dá nome aos bois. Elege o PT como o partido da iniqüidade, que levará adiante leis que amordaçarão a cristandade brasileira, e outras coisas do tipo. O que o leva a pensar que qualquer outro partido agirá de forma diferente?

Bom, fica claro que o Pastor Piragine não posiciona-se por qualquer outro partido, mas aí entra uma questão dialética. Se ele coloca um como “o demônio”, significa que para ele, outro partido seja “divino”, o salvador do mundo. O Pastor coloca nas mãos do Estado a função de combater a iniqüidade, relegando aos “representantes populares” a tal da moralização que ele acha necessária. Ou seja, está dando a César o que é de Deus.

Me entristece ver tal comentário feito num púlpito da Igreja Batista, igreja na qual comecei a minha vida cristã, pela qual tenho tanto carinho. Me entristece ainda mais que tenha sido ferido um dos princípios mais defendidos pelos Batistas no mundo – e enfatizado na Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira – a liberdade de consciência.

Isso me fez pensar em Karl Barth, quando estava na Alemanha e vê o Nacional Socialismo ascender ao poder, onde ele diz que tristemente vê “o seu querido povo alemão começar a adorar um falso deus”. Aqui, longe de querer fazer qualquer comparação histórica, vejo também com tristeza pastores que levam o meu querido povo cristão a adorarem falsos deuses.

Para aqueles que quiserem entender do que estou falando, segue abaixo o link do vídeo:


http://www.youtube.com/watch?v=ILwU5GhY9MI&feature=player_embedded

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Release - Caminhos de Reconciliação




“Caminhos de reconciliação: a mensagem da Bíblia”, de Enio R. Mueller, é o primeiro título lançado pela Editora Grafar, de Joinville.

Resultado de uma longa relação com a Bíblia, em “Caminhos de reconciliação: a mensagem da Bíblia”, Enio R. Mueller revela a mensagem central das escrituras sagradas a partir dos dois elementos em torno dos quais se organiza a narrativa bíblica de Gênesis a Apocalipse: os caminhos de reconciliação.

Esse livro, editado pela Editora Grafar, escrito com linguagem simples e de fácil compreensão, é pensado pelo autor como uma piscina onde crianças podem nadar seguras e os adultos encontram águas profundas. Em “Caminhos de reconciliação: a mensagem da Bíblia”, Enio R. Mueller lança luz sobre sua interpretação e sobre suas principais questões teológicas, possibilitando aos leitores uma chance de entender sua vida sob a perspectiva do Deus da vida, que quer reconciliar consigo a vida perdida.

Sobre o autor
Nascido em 1954, Enio Ronald Mueller é doutor em Teologia pela Escola Superior de Teologia de São Leopoldo (RS) e em Filosofia pela PUC de Porto Alegre (RS). Atualmente, é professor na Escola Superior de Teologia e exerce um ministério de reavivamento bíblico em igrejas e grupos de discipulado. É também coordenador do Dicionário Semântico do Hebraico Bíblico.

Sobre a editora
Em 1994 a Grafar Editoração Eletrônica Ltda. tinha como principal atividade a prestação de serviços de diagramação de livros para diversas editoras. Após um período em inatividade, em 2010, ela retorna ao mercado como a Editora Grafar Ltda. que, além de continuar prestando serviços de diagramação, passa a publicar seus próprios livros. Oferecer ao leitor livros com bom conteúdo e boa apresentação é o objetivo da Grafar, cujo principal foco temático é o cristianismo, com assuntos bíblicos e teológicos.

Serviço

O que: Livro “Caminhos de reconciliação: a mensagem da Bíblia”

Autor: Enio R. Mueller

Formato: 212 páginas – 14 x 21 cm

Valor: R$ 28,00

Onde comprar: www.editoragrafar.com.br – o livro pode ser adquirido na loja virtual da Grafar por meio da parceria com o PagSeguro, do Uol.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

terça-feira, 8 de junho de 2010

A relação com Deus é um casamento

Apesar do meu pouco tempo de casado, tem certas frases que já ouvia quando era solteiro e que hoje percebo que correspondem à realidade. Uma delas é aquele velho chavão de que “temos que nos apaixonar pela pessoa com a qual casamos todos os dias”, e toda aquela coisa de o casal se redescobrir, se conhecer a cada dia. Isso é real, pelo ponto de vista que todo mundo muda, todo dia. A cada nova idéia, a cada descoberta realizada, por muitas vezes extremamente íntima e pessoal, há uma mudança. Na maioria das vezes, tais mudanças podem ser imperceptíveis, mas elas vão se acumulando, vão realizando pequeníssimas diferenças e, ao cabo de quatro, cinco anos (que dirá quinze, vinte anos!), tem-se ao seu lado uma pessoa completamente diferente.

Obviamente este é um fenômeno correlativo, que ambos sofrem, então as mudanças geralmente podem ser compartilhadas, mas atinge a cada um de maneira diferente. E assim, é necessário sempre várias (re)descobertas d@ outr@, que, sendo bem aproveitada, pode ser o motor de uma longa e feliz relação.

Se esse fosse um texto sobre casamento, terminaria aqui, mas não é essa a minha pretensão. Essa introdução serviu para explicar onde quero chegar, e a idéia surgiu depois de uma dia que ouvi meu amigo Renato dizer: “a conversão não acontece uma única vez, é necessário se converter todos os dias”. Quase imediatamente me lembrei da frase sobre o casamento e comecei a traçar alguns paralelos, que seguem.

Nossa relação com Deus é basicamente “unilateral”, pois somente nós é que “evoluímos” nesta, haja vista que Deus é absoluto e perfeito, não cabendo a Ele alguma melhoria, progressão, evolução ou o que seja. Entretanto, apesar dEle ser o mesmo, absoluto e imutável, como podem existir tantas e diferentes concepções de Deus? Ele próprio disse a Moisés: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó.” (Ex 3:6), e com certeza Ele foi o Deus de Davi, de Salomão, de Isaías, de João Batista, até que desceu à terra por meio de seu filho e se revelou de uma maneira totalmente nova, porém, a Sua eternidade novamente é confirmada por Paulo em sua Epístola aos Hebreus, quando este diz que “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13:8). E o Deus que aí aparece é o mesmo para Paulo, como o é ainda hoje para nós.

Entretanto, há de se entender que, apesar de Deus ser único e eterno, o homem e suas concepções não o são. Quando Deus diz que é o Deus de Abraão e é também o Deus de Paulo, deve-se pensar que as concepções de mundo de um chefe tribal semi-nômade que viveu 2000 anos a. C., são muito diferentes de um judeu romano culto que tinha um conhecimento amplo de filosofia grega e que viveu no “centro do mundo” de sua época. Paulo demonstra muito bem essa questão da plenitude de Deus e a nossa parcialidade em 1Coríntios 13:10-12, quando diz que “quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido”.

E assim é com a gente em nossa relação íntima com Deus. Aos poucos, vamos descobrindo, estudando, sentindo. Àqueles que O buscam, Deus vai se revelando. Infelizmente, existem pessoas que tropeçam no legalismo, na idolatria (entendida aqui como a adoração a qualquer coisa que não seja o Deus único, apenas isso) e na auto-confiança, ofuscando assim a verdadeira luz de Deus que, ainda que a vejamos por um espelho, como disse Paulo, é forte o bastante para iluminar o nosso caminho. E esse é um casamento que para sempre dará certo, pois um dos dois componentes é perfeito, em seu amor, perdão e sabedoria.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Anarquismo Cristão?

Texto principal da versão impressa da segunda edição do Peplo:
Geralmente, a imagem do anarquismo é diretamente ligada ao ateísmo, à negação total e completa de um “ser”, ou um “ente” que seja de alguma forma superior a nós, e que controla as ações e mentes humanas. Obviamente, o cristianismo corrente que se encontra por aí, não ajuda muito em desmistificar essa idéia. Porém, ao se estudar a Bíblia de uma maneira mais detalhada e contundente, buscando despir-se de preconceitos e idéias pré ordenadas, a coisa começa a mudar de figura.

Um exemplo disso, é no livro de 1Samuel 8:11-18, quando o povo hebreu pede a Deus que lhes conceda um rei, no que Deus avisa (através de Samuel) o que lhes acontecerá ao serem reinados:

11 Este será o costume do rei que houver de reinar sobre vós; ele tomará os vossos filhos, e os empregará nos seus carros, e como seus cavaleiros, para que corram adiante dos seus carros.
12 E os porá por chefes de mil, e de cinqüenta; e para que lavrem a sua lavoura, e façam a sua sega, e fabriquem as suas armas de guerra e os petrechos de seus carros.
13 E tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras.
14 E tomará o melhor das vossas terras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais, e os dará aos seus servos.
15 E as vossas sementes, e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus oficiais, e aos seus servos.
16 Também os vossos servos, e as vossas servas, e os vossos melhores moços, e os vossos jumentos tomará, e os empregará no seu trabalho.
17 Dizimará o vosso rebanho, e vós lhe servireis de servos.
18 Então naquele dia clamareis por causa do vosso rei, que vós houverdes escolhido; mas o SENHOR não vos ouvirá naquele dia.

Um reinado, entendido por esse ponto de vista, realmente não parece ser muito agradável. Deus tentou avisar, mas o povo insistiu...

Agora, entrando na figura principal do cristianismo, Jesus, Ele vem anunciar o Reino dos Céus (que está entre nós Lc 17:21) e declara que de Deus é “o Reino, o Poder e a Glória para sempre (Mt 6:13b)”. Um ponto interessante de se pensar, é quando Jesus vai ao deserto e Satanás vem Lhe tentar (Lc 4:1-13). Na segunda tentativa, vemos o seguinte:


5 E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo.
6 E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero.
7 Portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
8 E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te para trás de mim, Satanás; porque está escrito: Adorarás o SENHOR teu Deus, e só a ele servirás.

Aqui é interessante dizer que, “esses Evangelhos foram provavelmente escritos com comunidades cristãs de origem grega, não judeus que eram influenciados pelo ódio [aos romanos]. A referência nestes textos, então, é ao poder político em geral (‘todos os reinos do mundo’) e não somente à monarquia de Herodes” (ELLUL, Jacques, Anarquia e Cristianismo).
Interessante aqui também notarmos duas coisas: (1) o diabo alega que todo o poder e a glória do mundo lhe foi entregue, e em momento algum Jesus contesta isso, pelo contrário, Ele declara que nada quer com tal poder, basta-Lhe adorar e servir a Deus; (2) a origem etimológica da palavra diabo (diabolos) vem de “divisor” (não é uma pessoa), sendo o Estado uma razão primária para a divisão, esse é o ponto de referência para o diabo, não uma alegoria medieval de chifres e cascos.
Vernand Eller, teólogo anarquista também trabalha um pouco nessa linha, ao falar sobre as “políticas do evangelho” e as “políticas mundanas”, e que, infelizmente, muitas igrejas parecem compartilhar desse último tipo de visão, e assim negam o que pregam os Evangelhos. Para ele, escritos que falam sobre as “Boas Novas”, dificilmente poderiam estar falando sobre um sistema excludente, que tenta afirmar a primazia de um grupo sobre o outro (seja qual for o meio), esquecendo-se que todos deveriam trabalhar em comunhão, para conseguir cumprir o mandamento de “amarmos uns aos outros” de forma satisfatória.

Pessoalmente, cerro fileiras com Tolstói e parafraseio-o ao dizer que antes de anarquista, sou cristão. Entretanto, ser cristão automaticamente me faz ser anarquista, pois ao buscar a igualdade a todos na Terra, leva-se a um bom termo o mandamento já acima citado.
Para aqueles que estão agrilhoados por um sistema corrupto e opressor, lembremos sempre das palavras de Jesus: “...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (Jo 8:32)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

As Escrituras e a Homossexualidade

[Em abril] no blog God’s Politics, Brian McLaren escreveu uma postagem intitulada: “Evangélicos devem amar os gays”, no qual ele declara que Jonathon Merritt “deve ser o mais corajoso Batista da América” ao argumentar que os evangélicos devem amar os homossexuais. Mesmo o artigo sendo positivo, ele ainda demonstra os homossexuais como objetos que tem a necessidade de afirmação e aceitação de seus companheiros heterossexuais. Entretanto, homossexuais são “indivíduos”, não diferentes de “heteros”, e ainda não posso acreditar que no século XXI nossas instituições governamentais e religiosas falhem em reconhecer que homossexualidade não é sinônimo de desordem, pecado e antinaturalidade.

Mais poderoso foi um comentário postado em resposta ao blog de alguém que é gay:

“Estamos lidando aqui com identidade... Não posso mudar minha identidade enquanto gay, assim como não posso mudar minha raça ou nacionalidade. Minha identidade não é má, nem um ‘pecado’. Nem existe um lado “certo” ou “errado” nisso. Minha identidade simplesmente é.”
Respondendo a esse comentário, outra pessoa disse:

“Não quero ser rígido ou desprezível, mas acredito que na Bíblia há definitivamente ao menos uma Escritura [passagem] que mostra o comportamento homossexual como desobediência a Deus, ou seja, pecado.”

Essa passagem é Romanos 1:27, na qual diz:

“E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.”

Essa passagem, entretanto, não condena pessoas homossexuais. Muitos estudiosos bíblicos concordam que Paulo, quando diz “natural”, não refere-se à ordem natural e à lei, ou que tal coisa seja inata. Antes, “natural” conota comportamentos que eram costumeiros a Paulo e seus conhecidos judeus. A homossexualidade não era costumeira na comunidade judia, mas era no contexto greco-romano. Além disso, Paulo apenas conhecia e então apenas podia falar da expressão pagã vulgar de homossexualidade, com suas características pervertidas de estupro, promiscuidade e indecência em público. Ainda, esses comportamentos – que também prevaleciam entre heterossexuais do século I romano – não representam o amor gay no mundo antigo e certamente não oferecem um pano de fundo para a compreensão do amor gay atual.

Citar a Bíblia para apoiar qualquer posição, especialmente anti-homossexualidade, é sempre um negócio arriscado, pois interpretar este documento antigo requer um grau de instrução cultural e histórico somado ao desejo de ler os textos em sua linguagem original. Ainda, todos trazemos nossas diferentes bagagens culturais ao lermos e interpretarmos as escrituras, mas essas bagagens não podem se tornar a única lente pela qual interpretamos a Bíblia. Nem a nossa interpretação pode ser absoluta. Devemos sempre lembrar que indivíduos tem citado a Bíblia com certezas absolutas para justificar a escravidão, o machismo e limpezas étnicas. A Bíblia não pode ser colocada em uma caixa, pois isso tiraria dela qualquer possibilidade de nos falar no futuro.

Mesmo assim, a homossexualidade inegavelmente apresenta um desafio especial ao leitores modernos das Escrituras. O teólogo de Harvard Peter J. Gomes cita no The Good Book: Reading the Bible with Mind and Heart [O Bom Livro: Lendo a Bíblia com Cabeça e Coração] que:

“Quase toda... pessoa que mantém uma aversão ao homossexualismo faz isso baseado no que ele ou ela acredita que a Bíblia diz, e nas suas cabeças não há dúvida alguma sobre o que a Bíblia diz, e o que a Bíblia significa.”

Gomes continua dizendo que não são apenas leitores individuais que contribuem para prejudicar os homossexuais, mas também as instituições religiosas. Ele argumenta que “uma combinação de ignorância e preconceito sob o disfarce de moralidade, faz com que a comunidade religiosa, e seu abuso das escrituras em favor próprio, seja moralmente culpada.”

Como um Católico Romano praticante, sempre achei os ensinamentos da Igreja sobre a homossexualidade problemáticos. Para mim, tais ensinos representam um exemplo de abuso das escrituras. Por exemplo, o Catecismo da Igreja Católica diz:

“Baseando-se na Sagrada Escritura, que apresenta atos homossexuais como atos de grave depravação, a tradição sempre declarou que ‘atos homossexuais são intrinsecamente desordenados’. Eles são contrários à lei natural. Eles tiram o ato sexual do presente da vida.”

A interpretação da Escritura é falha, pois muitos estudiosos concordam que condenações à homossexualidade são inexistentes na Bíblia. Ainda, essa leitura errônea da Escritura pode levar muitos católicos e não católicos a enxergar os homossexuais como indivíduos doentes e pecadores, que não podem curar sua doença a não ser que se reprimam. Esse ensinamento, em outras palavras, oprime seres humanos e consequentemente lhes nega justiça social. Para que a igreja Católica e outras igrejas cristãs continuem advogando justiça social com alguma credibilidade, elas precisam evitar usar as Escrituras para desenvolver um preconceito infundado contra um grupo de indivíduos que não querem nada mais a não ser tratamento igualitário. Vamos clamar pela coragem de libertar a Bíblia e outros de demais abusos?

Cesarb24 – retirado de www.jesusmanifesto.com

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Jesus e Hitler expiaram nossos pecados?



Hitler e Jesus têm mais em comum do que podemos imaginar. Sim, um é entendido como o Mal Encarnado enquanto o outro é freqüentemente afirmado como Deus Encarnado. Enquanto esse aspecto poderia certamente colocá-los em pólos opostos, eles dividem esse pólo: de serem deuses em nossa mitologia ocidental moderna.

É comum (porém errôneo) assumir que não somos mais uma sociedade construtora de mitos. Au contraire! Não estamos apenas constantemente revisando nossos mitos existentes para adaptá-los à nossa cultura mutante (basta apenas ver a pessoa de Cristo nos filmes para ver as grandes mudanças que ocorrem em apenas uma geração), mas estamos também criando novos mitos para dar sentido às grandes lutas da nossa civilização.

O que você faz com o grande e profundo mal que foi o Holocausto? Reconhecemos que não há particularmente nada de deficiente nos genes alemães que os faça predispostos ao mal. Além disso, embora entendamos que enquanto a cultura germânica certamente teve um papel importante ao dar origem aos males da Segunda Guerra Mundial, sabemos que a história cultural da Alemanha não é substancialmente diferente de seus vizinhos ocidentais que demonstre que eles possam ser intrinsecamente mais capazes de um Genocídio do que outras nações. A não ser, é claro, aquela coisa que é a presença de um semi-deus do mal, como foi Adolf Hitler.

O nome que damos ao Mal que levou ao Holocausto e à Guerra é “Hitler”. E ao nomearmos esse mal, Hitler garante seu lugar no panteão da civilização moderna ocidental. Se seres sobrenaturais existem – se temos deuses – Hitler é um deles. Ele pode fazer o papel de deus mal, mas ele é um deus todavia. Para muitos, ele tomou o lugar de Satanás.

Para ilustrar meu argumento (que Hitler é o deus do mal da nossa cultura, ao ponto de usurpar o posto de Satanás), vamos supor que você está em um debate com um amigo sobre a ética vegetariana. Seu amigo, vamos supor, é um vegetariano. Você, porém, é um onívoro. O debate chega ao ponto de seu amigo gritar: “toda vez que você come bacon, você é como Adolf Hitler!”. Isso deixaria você mais chateado (seja sincero) do que se o seu amigo tivesse dito que você é como o demônio?

Se você for como eu, se sentirá ofendido com o primeiro, e poderá até rir com o segundo.
Então, a primeira semelhança entre Jesus e Hitler é essa, que na nossa mitologia moderna, são ambos deuses.

Outro ponto que Hitler e Jesus dividem é que ambos são bodes expiatórios. O status de Jesus como tal tem sido explorado em numerosos escritos – mais notavelmente no trabalho de René Girard. Geralmente, cristãos acreditam que nossos pecados foram transferidos para Jesus (de uma maneira ou outra), então quando Ele é sacrificado, está sendo sacrificado em nosso lugar. Infelizmente, isso se tornou transacional para muitos, levando-os a abraçar uma graça “barata”.

É interessante para mim que o pensador mais conhecido por expor essa tendência cristã tenha feito isso à sombra do nazismo – Dietrich Bonhoeffer. Quão irônico que possamos facilmente ler Bonhoeffer e concordar que não devemos tratar Jesus como um reles bode expiatório apenas para virar para Adolf Hitler para propiciar nossos pecados! Deixem-me explicar.

Como sugeri anteriormente, é comumente aceito que Adolf Hitler é a razão do nazismo na Alemanha, e aí procederam-se os atos de genocídio. Hitler tornou-se a Causa Solitária do mal – quase um ser sobrenatural sinistro. Entretanto, uma visão diferente do surgimento do nazismo é que Hitler estava focando e manifestando o maior zeitgeist* do povo alemão – ou no mínimo um movimento crescente com o povo alemão.

Quando amaldiçoamos Hitler pelo que aconteceu na Segunda Guerra, falhamos em nomear as causas e tendências maiores que trouxeram Hitler ao poder e que permitiram os feitos horríveis do Holocausto. Deste modo, Hitler tornou-se um bode expiatório para os horrores da guerra.
Porém, ele é muito mais do que simplesmente um bode expiatório para os alemães. Ele serve a um propósito maior na civilização ocidental. Invocar o seu nome é invocar o mal, e assumir que ele é significantemente mais mal do que nós. Comparar alguém a Hitler é um tabu. Quando, no curso de uma conversação na internet, a lei de Godwin** tem efeito, a conversa instantaneamente acaba. Em outras palavras, NINGUÉM é tão mal quanto Hitler, e sugerir tal coisa é um dos maiores tabus que temos na nossa cultura.

Então, quando dizemos que a maneira que os EUA trataram seus índios foi como um “Holocausto”, ou que atualmente Israel está cometendo um genocídio contra o povo palestino, etc., a conversação acaba. Não importa quão maligna seja a história de alguém – ou quão cruel seja o comportamento de uma nação – nada poderá nunca rivalizar o indescritível mal que é HITLER. E, graças a Deus, Hitler é uma anomalia que NUNCA poderá acontecer novamente.

Além disso, Hitler é o Jesus Negro que toma os pecados para nossas próprias atrocidades – nossas injustiças modernas, nossos genocídios passados.

E, para todo o mais, Jesus está lá para tomar nossos pecados restantes. Dificilmente importa as particularidades por trás do surgimento do Messias ou do surgimento do Führer – em ambos os casos, o que temos na moderna sociedade ocidental são dois socialmente-construídos mitos úteis, que existem primariamente para reforçar o status quo.

No fim, achamos que não precisamos seguir o caminho de Jesus, nem temos que nomear suficientemente o mal que reside nos nossos corações, na nossa sociedade, nosso mundo. Por conta do puro sacrifício de Jesus, e da nódoa maligna de Hitler, estamos bem da maneira que estamos. Status quo confirmado!


Mark Van Steenwyk – retirado de www.jesusmanifesto.com em 08/04/2010


* Zeitgeist é um termo alemão cuja tradução significa espírito de época, espírito do tempo ou sinal dos tempos. O Zeitgeist significa, em suma, o conjunto do clima intelectual e cultural do mundo, numa certa época, ou as características genéricas de um determinado período de tempo.

**A Lei de Godwin conhecida também como A Regra das analogias Nazistas de Godwin (ou ainda em inglês Godwin's law ou Godwin's Rule of Nazi analogies, como é mais conhecida no meio virtual), tem por base uma afirmação feita em 1990 por Mike Godwin, um advogado estadunidense conhecido por formular essa "lei", que diz: “À medida que uma discussão na Usenet cresce, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Hitler ou nazistas aproxima-se de 1 (100%).”
Há uma tradição em listas de discussões e fóruns que, se tal comparação é feita, é porque quem mencionou Hitler ou os nazistas ficou sem argumentos.
(notas de rodapé retiradas semvergonhamente da Wikipédia pelo tradutor)

terça-feira, 16 de março de 2010

Simbologia dos símbolos que simbolizam

No último domingo, na primeira reunião da MiUni de 2010, discutíamos acerca da cruz. Desta, a conversa recaiu sobre os símbolos presentes na religião e a necessidade dos mesmos. Ali, saíram opiniões que mudaram um pouco a minha maneira de pensar, e gostaria de compartilhar isto aqui.

Por conta da minha formação de vida, os símbolos sempre me remeteram à idéia de alienação, submissão. Criado na Igreja Batista, que costuma apresentar as paredes de seus templos “nuas”, a idéia da cruz sempre me pareceu estranha. Aliado a isso, também sempre tive uma propaganda extremamente anti-católica dentro de casa, com minha vó sempre xingando os padres e a Igreja de Roma. Para mim (e para minha vó), a Igreja Católica era a igreja dos santos, dos adoradores de imagens, dos descumpridores do primeiro mandamento, da simbologia; pois até então, símbolo e imagens para mim era a mesma coisa.

Secularmente (não gosto muito dessa separação, mas ela nos serve bem aqui), símbolos também não me caíam bem. Me descobrindo anarquista, passei, por exemplo, a negar bandeiras; fossem elas de países, com foices e martelos, e aí em diante. Mesmo o conceito de “bandeira anarquista” me causa certo constrangimento. Como simbolizar o que busca destruir símbolos? É, no mínimo, contraditório.

Alguns anos depois, ainda pra reforçar, descobri o livro “O Espírito de Liberdade”, do psicólogo e sociólogo alemão Erich Fromm, que me ajudou a suplantar ainda mais a necessidade de símbolos. De forma magistral, Fromm demonstra através de uma análise freudiana do Êxodo hebraico, que as imagens servem apenas para submeter o potencial humano a elas. O autor porém, defende a idéia de que o ser humano não deve depender nem mesmo de Deus, pois foi pra sermos inteiramente livres que fomos criados. Concordo em partes, pois realmente devemos ser independentes e livres, porém acredito na submissão apenas a Deus, pois sem isso, a nossa natureza humana e falha não encontra o prumo.

Porém, o que transforma o símbolo em religioso? Para o teólogo/filósofo francês Jacques Ellul, é a palavra, enquanto força criadora de vida. Se pegarmos uma árvore e trabalharmos nesta até que uma mesa seja feita, o que temos é uma mesa. Numa mesa podemos comer, sentar ao redor, por os cotovelos (apesar de a etiqueta dizer que não), apoiar os pés... Enfim, inúmeras coisas. Entretanto, a partir do momento em que pegamos esta mesma mesa e colocamos em um lugar diferente, e a chamamos de “altar”, a coisa muda totalmente de figura.

A mesa deixa de ser mesa?

O luminoso escrito “Jesus” presente nos altares de algumas igrejas deixa de ser uma reação química de um gás que gera luminescência?

Porém, aprendi que há de se diferenciar imagem e símbolo, apesar destes serem quase que em sua maioria sinais visuais. Em um recente e-mail, fruto do debate de domingo, meu amigo Robert disse o seguinte: “Jesus como o Cristo de Deus também é um símbolo, se não, ficamos apenas com o Jesus histórico.” Porém, o próprio Rob finaliza com a seguinte sentença: “Mesmo assim, o símbolo não "é" o que simboliza, podendo ser transformado em ídolo. Este talvez seja o motivo pelo qual temos a tendência de desconfiar (muitas vezes com razão!) dessa história de símbolos. Mas, acho que antes de eliminá-los sumariamente, precisamos encontrar uma "convivência" sadia com eles, isto para a própria sobrevivência da igreja e da Boa Nova.”

E realmente, nesse domingo a noite, encontrei pessoas que conseguiam manter a tal da “convivência sadia” com os símbolos, e notei que, eu também o fazia, sem me dar conta que certos elementos os quais eu respeito não deixam de ser símbolos.