terça-feira, 8 de junho de 2010

A relação com Deus é um casamento

Apesar do meu pouco tempo de casado, tem certas frases que já ouvia quando era solteiro e que hoje percebo que correspondem à realidade. Uma delas é aquele velho chavão de que “temos que nos apaixonar pela pessoa com a qual casamos todos os dias”, e toda aquela coisa de o casal se redescobrir, se conhecer a cada dia. Isso é real, pelo ponto de vista que todo mundo muda, todo dia. A cada nova idéia, a cada descoberta realizada, por muitas vezes extremamente íntima e pessoal, há uma mudança. Na maioria das vezes, tais mudanças podem ser imperceptíveis, mas elas vão se acumulando, vão realizando pequeníssimas diferenças e, ao cabo de quatro, cinco anos (que dirá quinze, vinte anos!), tem-se ao seu lado uma pessoa completamente diferente.

Obviamente este é um fenômeno correlativo, que ambos sofrem, então as mudanças geralmente podem ser compartilhadas, mas atinge a cada um de maneira diferente. E assim, é necessário sempre várias (re)descobertas d@ outr@, que, sendo bem aproveitada, pode ser o motor de uma longa e feliz relação.

Se esse fosse um texto sobre casamento, terminaria aqui, mas não é essa a minha pretensão. Essa introdução serviu para explicar onde quero chegar, e a idéia surgiu depois de uma dia que ouvi meu amigo Renato dizer: “a conversão não acontece uma única vez, é necessário se converter todos os dias”. Quase imediatamente me lembrei da frase sobre o casamento e comecei a traçar alguns paralelos, que seguem.

Nossa relação com Deus é basicamente “unilateral”, pois somente nós é que “evoluímos” nesta, haja vista que Deus é absoluto e perfeito, não cabendo a Ele alguma melhoria, progressão, evolução ou o que seja. Entretanto, apesar dEle ser o mesmo, absoluto e imutável, como podem existir tantas e diferentes concepções de Deus? Ele próprio disse a Moisés: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó.” (Ex 3:6), e com certeza Ele foi o Deus de Davi, de Salomão, de Isaías, de João Batista, até que desceu à terra por meio de seu filho e se revelou de uma maneira totalmente nova, porém, a Sua eternidade novamente é confirmada por Paulo em sua Epístola aos Hebreus, quando este diz que “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13:8). E o Deus que aí aparece é o mesmo para Paulo, como o é ainda hoje para nós.

Entretanto, há de se entender que, apesar de Deus ser único e eterno, o homem e suas concepções não o são. Quando Deus diz que é o Deus de Abraão e é também o Deus de Paulo, deve-se pensar que as concepções de mundo de um chefe tribal semi-nômade que viveu 2000 anos a. C., são muito diferentes de um judeu romano culto que tinha um conhecimento amplo de filosofia grega e que viveu no “centro do mundo” de sua época. Paulo demonstra muito bem essa questão da plenitude de Deus e a nossa parcialidade em 1Coríntios 13:10-12, quando diz que “quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido”.

E assim é com a gente em nossa relação íntima com Deus. Aos poucos, vamos descobrindo, estudando, sentindo. Àqueles que O buscam, Deus vai se revelando. Infelizmente, existem pessoas que tropeçam no legalismo, na idolatria (entendida aqui como a adoração a qualquer coisa que não seja o Deus único, apenas isso) e na auto-confiança, ofuscando assim a verdadeira luz de Deus que, ainda que a vejamos por um espelho, como disse Paulo, é forte o bastante para iluminar o nosso caminho. E esse é um casamento que para sempre dará certo, pois um dos dois componentes é perfeito, em seu amor, perdão e sabedoria.