quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Os políticos e a proteção da "Verdade"


Ontem, assisti a um debate entre políticos (que se diziam) luteranos, e que concorrem a certos cargos na eleição de 2010. Haviam candidatos a deputados estaduais, federais, um concorrente ao senado e mais um concorrente à vaga de vice-governador de Santa Catarina.

Até aí, tudo muito bom, tudo muito bem. Todos eles exaltaram uma “linhagem” luterana, alguns puxaram seus primos, tios e demais parentes que figuravam entre pastores e leigos dirigentes da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Alguns, ainda mais enfáticos, exaltaram sua herança cultural alemã. Até aí também, nada demais, já que o debate estava sendo realizado para uma platéia composta 99% por descendentes de alemães.

Após uma breve apresentação dos candidatos, onde cada um teve um tempo para falar sobre si, suas propostas, sua herança cultural e o que mais lhes aprouvesse, foi aberta uma rodada de perguntas. Depois de uma ou duas básicas (itens tais como educação e reforma tributária), veio a temida: a posição dos candidatos frente ao famoso Plano Nacional dos Direitos Humanos 3 (PNDH3), que trata de temas tais como o aborto e o cerceamento do direito de se pregar contra a homossexualidade.

Pois bem, o que desejo abordar aqui, não é a questão da validade do Plano, nem se esse pode realmente cercear alguma coisa ou não, mas sim o clamor que começou a ser levantado naquele local. Quando falado sobre o PNDH, logo as falas acerca da “proibição de pregação”, de “ter que reescrever a Bíblia” e outros disparates começaram. Até que um dos candidatos pegou o microfone e falou algo do tipo:

- Lá [lá onde, criatura?], quero ser sal e luz! Quero ser a diferença, quero proteger o Evangelho, proteger a verdade do Evangelho!

OPS!

Proteger o Evangelho? O Evangelho não precisa que nós seres humanos o protejamos. O Evangelho é vivo, ele apenas precisa ser proclamado, Kérigma! Além disso, proteger a verdade do Evangelho? Qual é a verdade que esse homem queria proteger? A que ele julga correta? A verdade que discrimina pessoas por conta de sua opção sexual? A verdade que serve para justificar a pretensão do homem branco-rico-heterossexual-ocidental-cristão?

Quando alguém se intitula como defensor do Evangelho, ainda mais um representante do Estado, incorre no risco de querer dar a César o que é de Deus... Como um certo pastor já citado no post anterior. Esses homens talvez queiram (e até podem tentar) proteger a verdade deles, a qual eles tem todo o direito de espalhar. Agora, colocar essa verdade como a verdade de Deus e do Evangelho, aí complica, pois sabemos que só há uma Verdade (Jo 14:6), e esta Verdade, não precisa de homens e mulheres para defendê-La, muito menos de vice-governadores, deputados, senadores, pois à essa Verdade, pertence o Reino, o Poder e a Glória para sempre.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Dando a César o que é de Deus

Ultimamente, tem rolado pela internet um vídeo do Pastor Paschoal Piragine, da 1° Igreja Batista de Curitiba. Eu, ao menos, recebi esse vídeo umas três vezes de três pessoas diferentes. Normalmente, costumo ignorar esse tipo de e-mail, mas esse eu acabei assistindo, e me levou à diferentes reflexões.

O Pr. Piragine vai fazer a sua reflexão em cima da iniqüidade, e vai falar sobre temas que “abalam” o mundo da cristandade igrejeira. Aborto, por exemplo. Aqui, cabe a opinião e a liberdade de pensamento de cada um, do que acha ou não acha dos temas “escancarados” no filme sensacionalista apresentado pelo Pastor (escancarados sim, com imagens chocantes e desnecessárias de fetos humanos mortos, para citar o mínimo).

Até aí, nenhuma novidade no discurso do Pastor, a não ser a partir do momento em que ele escolhe um alvo para demonizar. Alegando que faria algo que não fez em 30 anos de púlpito, ele dá nome aos bois. Elege o PT como o partido da iniqüidade, que levará adiante leis que amordaçarão a cristandade brasileira, e outras coisas do tipo. O que o leva a pensar que qualquer outro partido agirá de forma diferente?

Bom, fica claro que o Pastor Piragine não posiciona-se por qualquer outro partido, mas aí entra uma questão dialética. Se ele coloca um como “o demônio”, significa que para ele, outro partido seja “divino”, o salvador do mundo. O Pastor coloca nas mãos do Estado a função de combater a iniqüidade, relegando aos “representantes populares” a tal da moralização que ele acha necessária. Ou seja, está dando a César o que é de Deus.

Me entristece ver tal comentário feito num púlpito da Igreja Batista, igreja na qual comecei a minha vida cristã, pela qual tenho tanto carinho. Me entristece ainda mais que tenha sido ferido um dos princípios mais defendidos pelos Batistas no mundo – e enfatizado na Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira – a liberdade de consciência.

Isso me fez pensar em Karl Barth, quando estava na Alemanha e vê o Nacional Socialismo ascender ao poder, onde ele diz que tristemente vê “o seu querido povo alemão começar a adorar um falso deus”. Aqui, longe de querer fazer qualquer comparação histórica, vejo também com tristeza pastores que levam o meu querido povo cristão a adorarem falsos deuses.

Para aqueles que quiserem entender do que estou falando, segue abaixo o link do vídeo:


http://www.youtube.com/watch?v=ILwU5GhY9MI&feature=player_embedded