segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Por que o Espírito Santo tem de intervir?

– Ele na verdade nos faz raciocinar ao contrário. Na revelação [cristã] temos de começar no final a fim de compreender o início. É precisamente isso o que o Espírito Santo nos leva a fazer: ver a cruz através da ressurreição e, similarmente, os pecados do homem através do perdão. A condenação através da graça. É porque Deus nos perdoa que somos capazes de apreender a extensão do nosso pecado, quando para o homem o método natural seria pecar primeiro e pedir perdão a Deus depois. Para mim, isso é absolutamente aberto e absolutamente liberador. É heresia pregar sobre pecado e condenação sem antes pregar sobre liberdade e perdão.
 
 
- Jacques Ellul, em entrevista a Patrick Chastenet

terça-feira, 23 de agosto de 2011

E o inferno?

"É conhecida a observação do Abade Mugnier que, quando lhe perguntaram se acreditava no inferno, respondeu: 'Certamente acredito nele; mas também acredito que não há ninguém lá'. Isso me parece mais do que um lampejo espirituoso. É um ponto de vista que é inerente a toda a perspectiva da Bíblia, de que a severidade e as ameaças de Deus – ou o que o homem em seu remorso atribuem a Deus – são destinadas a nada menos que a sua salvação e a conservá-lo fora do abismo."

Paul Tournier - Culpa e Graça (parágrafo suprimido na versão brasileira)


Nota: pretendo voltar a falar mais sobre esse livro. Aguardem!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Estado Laico?

Recebi do meu amigo Hugo pelo Facebook um convite para um evento, uma “Postagem coletiva em defesa do Estado Laico”, promovida pelo site dos Livres Pensadores.

Tudo muito bom, tudo muito bem, a princípio achei a idéia simpática, mas havia algo me incomodando. Estado Laico? Será mesmo? Não conseguia concordar integralmente... Será que eu estava inconscientemente me transformando em um fundamentalista? Por fim, me dei conta do que me incomodava: sim, eu sou contra o Estado Laico. Na bem da verdade, sou contra o Estado em si, seja ele Laico, Teocrático, como for.

Entretanto, trabalhando dentro do conceito atual de sociedade (como cristão é meu dever estar inserido dentro dela), tenho algumas considerações a fazer. Sou sim favorável ao Estado Laico. Porém, dentro do contexto de laicidade do Estado, existe também a liberdade de expressão e a liberdade do culto. Por mais que eu seja contrário à religião interferindo no Estado, existe uma parcela da população brasileira simpática à essa idéia. Basta ver a tal da “bancada evangélica”, que a cada ano vai angariando mais votos. Sendo assim, devo eu concordar com eles e seus métodos? Claro que não! Relembrando de Foucault e Nietzsche (para quem o Estado era o “monstro mais indiferente de todos os monstros”), e dentro dos estudos de Vernard Eller, o Estado não pode ser neutro, e qualquer que seja seu caráter, ele vai acabar sendo ditatorial (não, não acredito na falácia da democracia representativa) para com a minoria não governante (Bakunin que o diga!). Sendo assim, coloco-me em xeque: uma ditadura fundamentalista ou uma ditadura laica? Uma ditadura dos auto-proclamados cristãos que não passam de túmulos bonitos (Mt 23:27), ou de pessoas "iluminadas" pelo progresso científico, pela filosofia e pelo racionalismo? Nenhuma das duas, obrigado. Os dogmas, as inflexibilidades, o preconceito e o descaso estão presentes em ambos os lados, só mudam os termos. Cada um acha que é o portador da verdade, e não o são.


Compreendo e sou simpático àqueles que se sentem incomodados pela religiosidade exacerbada, assim como compreendo e sou simpático àqueles que creem em algo que está além de sua compreensão. Entretanto, como sempre, falta um diálogo claro e coerente. E pode parecer a primeira vista que os nossos amigos ateus estão mais perto disso, mas não estão. Parafraseando Karl Barth, o “titã” racionalista é mais perigoso, pois passa a falsa impressão de liberdade humana e livre pensamento, mas acaba desprezando uma racionalidade e espiritualidade diferenciada, que sofre o preconceito de ser “obscurantismo”.

O que sei nisso tudo, é que não se atinge a espiritualidade das pessoas através das esferas políticas, assim como não se convencem pessoas de seus erros chamando-as de “retrógradas, fundamentalistas e ignorantes”. O que falta nisso tudo, é o bom e velho Amor, ou mesmo um pouco de respeito e compreensão mútua.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Litania de Resistência

Ó Espírito Santo, que no começo da criação se moveu sobre as águas,
Cria-nos novamente com seu poder da vida.
Ó Espírito Santo, que inspirou os profetas a falar audaciosamente à uma geração arrogante,
Capacite-nos a falar profeticamente em nossos dias.
Ó Espírito Santo, que veio como uma pomba no Batismo de Jesus,
Fortaleça-nos enquanto batizados em nossa vida no mundo.
Ó Espírito Santo, que levou Jesus ao deserto, e o amparou durante seus 40 dias de tentação,
Ajuda-nos a resistir à tentação do poder, enquanto seguimos o caminho humilde de Cristo.
Ó Espírito Santo, que no dia de Pentecostes pôs fogo nas vidas dos primeiros discípulos,
Nos incendeie para revelarmos o Cristo Ressuscitado em nosso mundo.

O Espírito do Senhor está sobre nós.
Fomos ungidos para anunciar as boas novas aos pobres.
O Espírito do Senhor está em nós.
Fomos enviados para anunciar a liberdade aos que estão presos.
O Espírito do Senhor está conosco.
Fomos enviados para anunciar a recuperação da visão dos cegos.
O Espírito do Senhor está diante de nós.
Fomos enviados para libertarmos os oprimidos.
O Espírito do Senhor está atrás de nós.
Pois fomos enviados para anunciar o ano da graça do Senhor.

Espírito de Deus, capacita-nos.
Enquanto lutamos contra os poderes de opressão.
Espírito de Deus, fortalece-nos.
Enquanto resistimos aos poderes de dominação.
Espírito de Deus, habita entre nós.
Enquanto buscamos unidade em nossas vidas e em nossas comunidades.
Espírito de Deus, nos guia.
Enquanto subvertemos sistemas de morte.
Espírito de Deus, envia-nos.
Para anunciar o ano da graça do Senhor.

Sopra em nós, Espírito de Deus.
Sopra em nossas bocas,
para que possamos anunciar as Boas Novas.
Sopra em nossos olhos,
para que possamos ver seu reino em nosso meio.
Sopra em nossas mãos,
para construirmos boas coisas,
e derrubarmos o que destrói.
Sopra em nossos pés,
para irmos onde nos mandar.
Sopra em nossos corações, para que todo enxergar e falar, e ir e vir seja feito em amor.
Amém.


Originalmente em: http://www.jesusradicals.com/a-litany-of-resistance-in-the-shadow-of-empire/

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Calhev e a Greve, Parte II

MOÇÃO DE APOIO Á GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS DE JOINVILLE




Mais de quatro mil pessoas na rua, mais de 60% dos servidores públicos joinvilenses entraram em greve, são os indicativos do sindicato da categoria. Os números são signos evidentes do descontentamento geral, pois os grevistas não são mercenários, são trabalhadores e trabalhadoras que conhecem a sua realidade trabalhista e que estão determinados a se indispor com a gestão executiva municipal, bem como com parte da população, afetando temporariamente a qualidade dos serviços públicos, para a melhoria da mesma. Embora as exigências das condições financeiras estejam mais claras que as demais, entendemos que as reivindicações são justas. Também pensamos ser importante a organização dos trabalhadores do funcionalismo público, de modo a exercer a fiscalização das políticas municipais indicando onde se encontram os problemas a ser solucionados, contudo o excessivo uso da figura do atual prefeito Carlito Merss por parte dos manifestantes pode maquiar a realidade de que esta contenda travada pelos servidores é, também, o resultado de descasos das gestões anteriores. Não estamos assim buscando eximir o atual prefeito de sua responsabilidade, porém gostaríamos de lembrar a existência do risco eminente de que manifestações de grande porte estão sujeitas às inúmeras utilizações, inclusive por gestões anteriores que nada fizeram para solucionar os problemas do funcionalismo público joinvilense. Contudo, de modo algum, intentamos desvalorizar as lutas dos servidores, muito pelo contrário, só desejamos acrescentar.

Assim sendo, atestamos que o modo mais eficaz de se fazer política, é a participação direta dos indivíduos, exercendo sua cidadania além do voto. Nós, aqui representados pelo CALHEV, acreditamos que é mais do que justo apoiar a luta travada pelas e pelos servidores, representados pelo SINSEJ e por si próprios, quando o mesmo não mais o fizer.

Centro Acadêmico Livre de História Eunaldo Verdi - CALHEV

Calhev e a Greve

MOÇÃO DE APOIO Á GREVE DOS PROFESSORES ESTADUAIS DE SC




A estrutura escolar em Santa Catarina está passando por dias de agitação extraordinária. Bem como outros setores do funcionalismo público, a exemplo de Joinville. A maioria dos trabalhadores por todo o estado optou pela paralisação de alguns serviços, como forma de exigir tratamento digno a sua função na sociedade. O governo do estado está em desacordo com a Lei 11.738/2008, que estabelece o piso salarial para os professores do ensino público, pagando muito abaixo do previsto, enquanto cargos administrativos de menor relevância para o bem-estar social, porém mais próximos das decisões contábeis da máquina estatal, usufruem de maior conforto econômico para exercer suas funções. Outras pautas clamam por uma política pública de qualidade para a educação, como o conflito gerado pela falta de concursos para professores, já que existe uma lei exigindo que a cada dois anos se faça concurso para este setor na rede pública, outra que o estado catarinense teima em não cumprir. Nessas condições o governo tem contratado professores, e estes contratos o redimem de arcar com valiosas leis trabalhistas como 13º salário, férias, a não necessidade de pagamento salarial no período em que as aulas são suspensas, como nos meses de janeiro e fevereiro. Sem mencionar a falta de transparência e de cuidado durante a contratação dos/as professores/as, já que ainda existem acusações de que a gerência de ensino esconde vagas e/ ou contrata professores/as sem a formação adequada para as disciplinas que lecionam. Diante disso tudo, há nesta greve a pretensão de pôr à discussão pública quais são as prioridades deste governo e qual a melhor maneira de se promover a educação neste estado e, principalmente, há a atitude corajosa destes/as professores/as em exigir que sejam valorizados seus esforços, para que não mais enfrentem humilhações como a recente medida deste governo de proibir que professores/as comam merendas nas escolas, ainda que toneladas de comidas sejam jogadas fora em várias escolas em troca do vale refeição de R$6 ao dia pra quem trabalha de 8 a 12 horas por diárias. O que nos surpreende não é um governo que tem um engenheiro como Marco Tebaldi à frente da educação, o que nos surpreenderá é se este governo seguir com estas políticas sem que, ao menos, a população se revolte e se imponha diante de tais mazelas. Como pode um estado não cumprir leis? Como pode o estado alegar que não tem dinheiro para pagar suas contas? Pode o cidadão comum também desfrutar destas arbitrariedades, e sair dizendo por aí que não pode pagar as suas contas?

Acreditamos, também, que a atual luta dos professores é de extrema validade, pois o problema encontrado na atual gestão do governo pôde ser verificado em várias outras, atestando que o modo mais eficaz de se fazer política, é a participação direta dos indivíduos, exercendo sua cidadania além do voto. Nós, aqui representados pelo CALHEV, acreditamos que é mais do que justo apoiar a luta travada pelos professores, representados pelo SINTE e por si próprios, quando o mesmo não mais o fizer.

Centro Acadêmico Livre de História Eunaldo Verdi - CALHEV

terça-feira, 26 de abril de 2011

Oração e Resistência

Dia desses, recebi um email da newsletter (ou seja lá qual for o nome) da Bacia das Almas. No tal email, vinha a carta de uma teóloga italiana chamada Adriana Zarri (1919-2010), onde ela explicava aos seus amigos a sua decisão de adotar a vida de eremita. Mas não é isso que quero abordar aqui. Na carta, Adriana fala acerca do caráter funções da oração, a oração enquanto resistência.


Adriana começa falando que a oração pode, num primeiro momento, parecer algo alienante, que “nos afasta da vida do mundo”. Porém para ela, “a oração se nutre de solidão, não de isolamento, e o silêncio contemplativo é denso de palavras e de presenças”.


O mundo que nos cerca hoje, segundo a teóloga, é um mundo essencialmente utilitarista. Entretanto, não vemos essa análise somente nas palavras dela. Isso também parte de diversos teóricos, como Jaques Ellul e sua análise da técnica, Erich Fromm e seus trabalhos do “ser X ter”, além de muitos outros que criticam o pragmatismo incessante em busca da produção, do lucro, do consumo, ou seja lá como queiram nomear esse pragmatismo predominante na sociedade atual. Segundo Adriana, esse modelo utilitarista é “privado daqueles espaços de fantasia, de poesia e de gratuidade sob os quais se insere precisamente a oração”.


A oração, é um espaço no qual, além do ato de falar com Deus, existe também o ato de falar consigo mesmo, onde aparece um espaço para a autoreflexão. É um momento em que, se a oração for realmente sincera e cheia de significados, pode-se chegar a conclusões próprias acerca de si mesmo, através da conversa com Deus. Conversa que pode e deve fluir livremente, na qual podemos e devemos falar tudo o que pensamos e sentimos, pois só Ele nos conhece de maneira perfeita e completa. Nada do que dissermos (ou do que escondermos) será novidade para Deus. Ele tudo sabe, e apenas quer que admitamos para nós mesmo, para que nos reconheçamos enquanto pecadores e falhos, mas isso enquanto um ato de amor, nunca de menosprezo ou humilhação.


Mas além disso, seguindo a lógica da Zarri, a oração também é um momento de resistência, de “entrar” no deserto, e cair em uma “contestação contemplativa”. Orar é aquietar-se, aprofundar-se, e conhecer mais a si próprio, conjuntamente com Deus.


Para quem quiser ler na íntegra a carta a qual me refiro, pode clicar aqui.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Provisão!

Mais um texto daqueles escritos para o tempo de Advento. Um pouco atrasado, mas sempre válido:


Seis dias trabalharás, mas ao sétimo dia descansarás: na aradura e na sega descansarás. (Êxodo 34.21)


PROVISÃO!


Essa música impactante que acabamos de ouvir, se chama “Carmina Burana”, e fala sobre a sorte e a fortuna. Durante muitos anos, ela foi considerada como uma música profana pela Igreja Católica. A letra dela, fala sobre a roda da sorte, de como o ser humano está algumas vezes por cima, outras horas na desgraça, e tudo por conta da busca ao dinheiro, à fortuna. Estudiosos presumem que a música seja do século 13, e ela já mostra a incessante preocupação humana atrás de riquezas.

O filósofo e economista alemão Karl Marx, nos idos do século 18, falava que o trabalho enquanto busca pelo dinheiro, aliena o homem de si mesmo. Na seqüência dele, vários outros estudiosos e intelectuais disseram o mesmo. E junto a eles, vários estudiosos do cristianismo, tanto teólogos quanto leigos, afirmaram algo parecido.

Entretanto, nenhum deles disse novidade alguma! Jesus Cristo já falava no Evangelho de Lucas 16:13, “Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom”.

Oras, o que é então a tal da alienação? E o que ela tem a ver com a palavra dita por Cristo?

Alienação, segundo o dicionário significa “o ato de tornar-se alheio”. E quando os teólogos dizem que o homem se aliena da sua humanidade, eles querem dizer que o ser humano torna-se alheio de si mesmo e do próximo, e através disso, aliena-se também de Deus. E Jesus, ao falar que não se pode servir a dois senhores, quer dizer que se servirmos a outro senhor que não seja Deus, estamos nos submetendo a qualquer outra coisa que não a verdadeira liberdade, estamos tendo uma vida idólatra. Viver em Cristo é a única maneira de vivermos a nossa humanidade ao máximo, com todo o seu potencial. Através dEle e da libertação proporcionada na Cruz é que podemos nos considerar seres humanos plenos.

E Jesus, conhecedor absoluto da alma humana, refere-se diretamente a Mamom, que é uma forma hebraica de dizer “riquezas”. No versículo 14 do mesmo capítulo do Evangelho de Lucas, nos é contado que os fariseus eram avarentos, e o Filho de Deus sabia exatamente onde estava tocando no coração de cada um. Ele sabia que o dinheiro, que o acúmulo, a ganância, pode tornar-se uma obsessão na vida da pessoa, levando-a a desprezar e subjugar a liberdade do próximo.

Porém, esse pensamento não é visto pela primeira vez na Bíblia nestas palavras de Jesus, isso já é uma constante na história do povo judeu. Quando este é liberto do Egito e guiado por Moisés no deserto, eles recebem o maná do céu. Ao povo, é dada a ordem de que ajunte para si somente o suficiente para um dia, que não acumulasse para o próximo. Se o maná fosse acumulado, ele amanheceria podre no dia seguinte. Essa regra só não era válida quando era o dia do descanso, instituído por Deus no versículo de hoje.

O povo hebreu era escravo no Egito. Em termos sociológicos, a escravidão apresenta o auge da alienação ao trabalho, pois do fruto do seu próprio esforço, o escravo nada aproveita. Aos hebreus, o dia de descanso era uma ordem, para que se lembrassem dos seus tempos de escravidão, nos quais provavelmente não tinham descanso algum. Além de não deverem trabalhar, não poderiam nem mesmo fazer com que alguém trabalhasse para eles. O dia deveria ser totalmente devotado a Deus, e não dedicado a qualquer tipo de preocupação em ganhar ou acumular riquezas.

Esses fatos refletem em muitos aspectos ainda muito presentes no nosso mundo contemporâneo, e ecoam em vários dos ensinamentos de Cristo. Quando é dito ao povo que não acumule o alimento, pois é certo que ele cairá no dia seguinte, é o mesmo que quando Jesus nos manda olharmos os lírios do campo e os pardais, que são vestidos e alimentados pela graça do Senhor. Deus está conosco, ao nosso lado, e promete nos prover o que precisamos, e não precisamos tentar depender de nós mesmos, de nosso trabalho, de nosso esforço. Foi assim com o povo no deserto, com o povo de Deus, do qual hoje fazemos parte.

Não quero aqui falar da questão do Natal ter se tornado uma data materialista e comercial, esse assunto já está sendo falado e debatido em grande parte das igrejas e afins. O importante é pensar nas prioridades nas nossas vidas. Servir a Deus ou buscar as riquezas? Cristo deixou bem claro que ambas as coisas são impossíveis coexistirem.

Num momento de reflexão como esse, devemos ter em mente as palavras de Jesus no Evangelho de Mateus 6:19-21: “Não ajunteis para vós tesouros sobre a terra, onde traça e ferrugem corroem e onde os ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam nem roubam; porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração”.

Nesse tempo de advento, além da esperança, é tempo de pensar na provisão que Deus nos dá, não só material mas também espiritual. E, estando certos dessa provisão, podemos nos preocupar com o que realmente deve ser importante para nós: o Reino de Deus. E isso, é promessa, conforme lemos em Mateus 6:33 “Buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas as coisas vos serão acrescentadas”.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Antes tarde do que nunca

Lembram do Pr. Piragine e seu discurso, que inclusive foi comentado aqui nesse blog?

Pois então, a Aliança de Batistas do Brasil respondeu a essa fanfarronice. Pena que eu encontrei essa resposta somente agora. Entretanto, para não deixar passar em branco, publico aqui mesmo assim. Ela segue integral abaixo, e os grifos, para auxiliar na leitura das pessoas sem paciência para tanto texto, são meus:


"ELEIÇÕES 2010: PRONUNCIAMENTO DA ALIANÇA DE BATISTAS DO BRASIL

A Aliança de Batistas do Brasil vem, por meio deste documento, reafirmar o compromisso histórico dos batistas, em todo o mundo, com a liberdade de consciência em matéria de religião, política e cidadania. A paixão pela liberdade faz com que, como batistas, sejamos um povo marcado pela pluralidade teológica, eclesiológica e ideológica, sem prejuízo de nossa identidade. Dessa forma, ninguém pode se sentir autorizado a falar como “a voz batista”, a menos que isso lhe seja facultado pelos meios burocráticos e democráticos de nossa engrenagem denominacional.

Em nome da liberdade e da pluralidade batistas, portanto, a Aliança de Batistas do Brasil torna pública sua repulsa a toda estratégia político-religiosa de “demonização do Partido dos Trabalhadores do Brasil” (doravante PT). Nesse sentido, a intenção do presente documento é deixar claro à sociedade brasileira duas coisas: (1) mostrar que tais discursos de demonização do PT não representam o que se poderia conceber como o pensamento dos batistas brasileiros, mas somente um posicionamento muito pontual e situado; (2) e tornar notório que, como batistas brasileiros, as ideias aqui defendidas são tão batistas quanto as que estão sendo relativizadas.

1. A Aliança de Batistas do Brasil é uma entidade ecumênica e dedicada, entre outras tarefas, ao diálogo constante com irmãos e irmãs de outras tradições cristãs e religiosas. Compreendemos que tal posicionamento não fere nossa identidade.

Do contrário, reafirma-a enquanto membro do Corpo de Cristo, misteriosamente Uno e Diverso. Assim, consideramos vergonhoso que pastores e igrejas batistas histórica e tradicionalmente anticatólicos, além de serem caracterizados por práticas proselitistas frente a irmãos e irmãs de outras tradições religiosas de nosso país, professem no presente momento a participação em coalizões religiosas de composição profundamente suspeita do ponto de vista moral, cujos fins dizem respeito ao destino político do Brasil.

Vigoraria aí o princípio apontado por Rubem Alves (1987, p. 27-28) de que “em tempos difíceis os inimigos fazem as pazes”? Com o exposto, desejamos fazer notória a separação entre os interesses ideológicos de tais coalizões e os valores radicados no Evangelho. Por não representarem a prática cotidiana de grande fração de pastores e igrejas batistas brasileiras, tais coalizões deixam claro sua intenção e seu fundo ideológico, porém, bem pouco evangélico. Logrado o êxito buscado, as igrejas e os pastores batistas comprometidos com as coalizões “antipetistas” dariam continuidade à prática ecumênica e ao diálogo fraterno com a Igreja Católica, assim como com as demais denominações evangélicas e tradições religiosas brasileiras? Ou logrado o êxito perseguido, tais igrejas e pastores retornariam à postura de gueto e proselitismo que lhes marcam histórica e tradicionalmente?

2. Como entidade preocupada e atuante em face da injustiça social que campeia em nosso país desde seu “descobrimento”, a Aliança de Batistas do Brasil sente-se na obrigação de contradizer o discurso que atribui ao PT a emergente “legalização da iniquidade”. Consideramos muito estranho que discursos como esse tenham aparecido somente agora, 30 anos depois de posicionamentos silenciosos e marcados por uma profunda e vergonhosa omissão diante da opressão e da violência a liberdades civis, sobretudo durante a ditadura militar (1964-1985). Estranhamos ainda que tais discursos se irmanem com grupos e figuras do universo político-evangélico maculadas pelo dinheiro na cueca em Brasília, além da fatídica oração ao “Senhor” (Mamon?).

Estranhamos ainda que tais discursos não denunciem a fome, o acúmulo de riqueza e de terras no Brasil (cf. Isaías 5,8), a pedofilia no meio católico e entre pastores protestantes, como iniquidades há tempos institucionalizadas entre nós.

Estranhamos ainda que tais discursos somente agora notem a possibilidade da legalização da iniquidade nas instituições governamentais, e faça vistas grossas para a fatídica política neoliberal de FHC, além da compra do congresso para aprovar a reeleição. Estranhamos que tais discursos não considerem nossos códigos penal e tributário como iniquidades institucionalizadas. Os exemplos de como a iniquidade está radicalmente institucionalizada entre nós são tantos que seriam extenuantes. Certamente para quem se domesticou a ver nas injustiças sociais de nosso Brasil um fato “natural”, ou mesmo como a “vontade de Deus”, nada do mencionado antes parece ser iníquo. Infelizmente!

3. Como entidade identificada com o rigor da crítica e da autocrítica, desejamos expressar nosso descontentamento com a manipulação de imagens e de informações retalhadas, organizadas como apelo emocional e ideológico que mais falseia a realidade do que a apreende ou a esclarece. Textos, vídeos, e outros recursos de comunicação de massa, devem ser criteriosamente avaliados. Os discursos difamatórios tais como os que se dirigem agora contra o PT quase sempre se caracterizam por exemplos isolados recortados da realidade.

Quase sempre, tais exemplos não são representativos da totalidade dos grupos e das ideologias envolvidas. Dito de forma simples: uma das armas prediletas da difamação é a manipulação, que se dá quase sempre pelo uso de falas e declarações retiradas do contexto maior de onde foram emitidas. Em lugar de estratégias como essas, que consideramos como atentados à ética e à inteligência das pessoas, gostaríamos de instigar aos pastores, igrejas, demais grupos eclesiásticos e civis, o debate franco e aberto, marcado pelo respeito e pela honestidade, mesmo que resultem em divergências de pensamento entre os participantes.

4. A Aliança de Batistas de Brasil é uma entidade identificada com a promoção e a defesa da vida para toda a sociedade humana e para o planeta. Mas consideramos também que é um perigo quando o discurso de defesa da vida toma carona em rancores de ordem política e ideológica.

Consideramos, além disso, como uma conquista inegociável a laicidade de nosso estado. Por isso, desconfiamos de todo discurso e de todo projeto que visa (re)unir certas visões religiosas com as leis que regem nossa sociedade. A laicidade do estado, enquanto conquista histórica, deve permanecer como meio de evitar que certas influências religiosas usurpem o privilégio perante o estado, e promova assim a segregação de confissões religiosas diferentes. É mister recordar uma afirmação de um dos grandes referenciais teológicos entre os batistas brasileiros, atualmente esquecido: “Os batistas crêem na liberdade religiosa para si próprios. Mas eles crêem também na igualdade de todos os homens. Para eles, isso não é um direito; é uma paixão. Embora não tenhamos nenhuma simpatia pelo ateísmo, agnosticismo ou materialismo, nós defendemos a liberdade do ateu, do agnóstico e do materialista em suas convicções religiosas ou não-religiosas” (E. E. Mullins, citado por W. Shurden).

Nossa posição está assentada na convicção de que o Evangelho, numa dada sociedade, não deve se garantir por meio das leis, mas por meio da influência da vida nova em Jesus Cristo. Não reza a maior parte das Histórias Eclesiásticas a convicção de que a derrota do Cristianismo consistiu justamente em seu irmanamento com o Império Romano? Impor a influência de nossa fé por meio das leis do Estado não é afirmar a fraqueza e a insuficiência do Evangelho como “poder de Deus para a salvação de todo o que crê”? No mais, em regimes democráticos como o Estado brasileiro, existem mecanismos de participação política e popular cuja finalidade é a construção de uma estrutura governamental cada vez mais participativa. Foi-se o tempo em que nossa participação política estava confinada à representatividade daqueles em quem votamos.

5. A Aliança de Batistas do Brasil se posiciona contra a demonização do PT, levando em consideração também que tal processo nega o legado histórico do Partido dos Trabalhadores na construção de um projeto político nascido nas bases populares e identificado com a inclusão e a justiça social. Os que afirmam o nascimento de um “império da iniquidade”, com uma possível vitória do PT nas atuais eleições, “esquecem” o fundamental papel deste partido em projetos que trouxeram mais justiça para a nação brasileira, como, por exemplo: na reorganização dos movimentos trabalhistas, ainda no período da ditadura militar, visando torná-los independentes da tutela do Estado; na implantação e fortalecimento do movimento agrário-ecológico dos seringueiros do Acre pela instalação de reservas extrativistas na Amazônia, dirigido, na década de 1980, por Chico Mendes; nas ações em favor da democracia, lutando contra a ditadura militar e utilizando, em sua própria organização, métodos democráticos, rompendo com o velho “peleguismo” e com a burocracia sindical dos tempos varguistas; nas propostas e lutas em favor da Reforma Agrária ao lado de movimentos de trabalhadores rurais, sobretudo o MST; no apoio às lutas pelos direitos das crianças, adolescentes, jovens, mulheres, homossexuais, negros e indígenas; e na elaboração de estratégias, posteriormente transformadas em programas, de combate à fome e à miséria.

Atualmente, na reta final do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, vemos que muita coisa desse projeto político nascido nas bases populares foi aplicado. O governo Lula caminha para seu encerramento apresentando um histórico de significativas mudanças no Brasil: diminuição do índice de desemprego, ampliação dos investimentos e oportunidades para a agricultura familiar, aumento do salário mínimo, liquidação das dívidas com o FMI, fim do ciclo de privatização de empresas estatais, redução da pobreza e miséria, melhor distribuição de renda, maior acesso à alimentação e à educação, diminuição do trabalho escravo, redução da taxa de desmatamento etc. É verdade que ainda há muito a se avançar em várias áreas vitais do Brasil, mas não há como negar que o atual governo do PT na Presidência da República tem favorecido a garantia dos direitos humanos da população brasileira, o que, com certeza, não aconteceria num “império de iniquidade”.

Está ficando cada vez mais claro que os pregadores que anunciam dos seus púlpitos o início de uma suposta amplitude do mal, numa continuidade do PT no Executivo Federal, são os que estão com saudade do Brasil ajoelhado diante do capital estrangeiro, produzindo e gerenciando miséria, matando trabalhadores rurais, favorecendo os latifundiários, tratando aposentados como vagabundos, humilhando os desempregados e propondo o fim da história.

Enfim, a Aliança de Batistas do Brasil vem a público levantar o seu protesto contra o processo apelatório e discriminador que nos últimos dias tem associado o Partido dos Trabalhadores às forças da iniquidade. Lamentamos, sobretudo, a participação de líderes e igrejas cristãs nesses discursos e atitudes que lembram muito a preparação das fogueiras da inquisição.

Maceió, 10 de setembro de 2010.

Pastora Odja Barros Santos - Presidente
Pastores/as batistas membros da Aliança
Pr. Joel Zeferino _ Igreja Batista Nazaré – Salvador-BA
Pr. Wellington Santos – Igreja Batista do Pinheiro – Maceió-AL
Pr. Paulo César – Igreja Batista Bultrins – Olinda –PE
Pr. Paulo Nascimento – Igreja Batista da Forene – Maceió-AL
Pr. Reginaldo José da Silva – Igreja Batista da Cidade evangélica dos órfãos – Bonança-PE
Pr. Waldir Martins Barbosa – Ig. Batista Esperança
Pr. Silvan dos Santos – Igreja Batista Pinheiros – São Lourenço da Mata- PE
Pr. Marcos Monteiro – Comunidade de Jesus – Feira de Santana – BA
Pr. João Carlos Silva de Araujo - Primeira Igreja Batista do Recreio
Pra. Marinilza dos Santos - Igreja Batista Pinheiros – São Lourenço da Mata- PE
Pr. Adriano Trajano – Chã Preta – AL
Pr. Pedro Virgilio da Silva Filho - Serrinha BA
Pr. Gilmar de Araújo Duarte - PIB Brás de Pina – RJ
Pr. Alessandro Rodrigues Rocha - SIB Petrópolis, Petrópolis RJ
Pr. Nilo Tavares Silva - Igreja:Batista em Praça do Carmo, Rio de Janeiro RJ
Pr.Luis Nascimento - Princeton, NJ – USA
Pr.Raimundo Barreto – USA"



Fonte:

http://www.koinonia.org.br/tpdigital/detalhes.asp?cod_artigo=421&cod_boletim=23&tipo=Artigos em 28/01/2011

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Para não pensarem que desisti!

Deixo com vocês um trecho do livro Christian Anarchy, de Vernard Eller:

"'Existe, então, uma política cristã de paz válida?'
Essa pergunta é feita de maneira errada, então deve ser respondida com um não. Lembremos o quão inflexível Barth foi ao se colocar contrário a qualquer programa ou partido que levasse o adjetivo 'cristão', ou 'religioso', e que tentasse usar esse adjetivo como uma recomendação de sua verdade e superioridade. Programas políticos cristãos são tão impossíveis quanto fórmulas matemáticas cristãs ou receitas de bolo cristãs.
Vamos tentar de novo: 'Existe, então, uma política de paz válida, da qual cristãos possam participar conscientemente?'
Com certeza! Não há nem mesmo motivos para negar que pode ser a teologia cristã da paz que o leve a participar de algum esforço político. Porém, enquanto engajado neste esforço, o cristão é obrigado a participar como um simples cidadão (uma entidade política), não tomar posições enquanto cristão. Toda proposta feita precisa ser justificada no plano político, humanamente possível de se alcançar por meios particularmente humanos – não no plano de que Deus ordena e promete que fará. É a mesma coisa que um cristão que seja físico, mas ele mantém suas teorias físicas dentro dos limites humanos e não tenta melhorá-las recorrendo aos milagres de Deus. Os limites dos discurso devem ser respeitados: enquanto estiver fazendo teologia, deve-se falar de Deus; quando se fizer política, não se deve falar de Deus."